terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

atrasado...

Histórias de vida... casamentos... viagens... ainda não sei qual será meu assunto de hoje, já que o tempo se tornou muito escasso e não consigo colocar na tela boa parte das reflexões que me ocorrem durante o dia.
Passei um fim de semana agradabilíssimo em Itatiba, na casa de Edna e Valdir, com poucas e boas amizades remanescentes de meu antigo emprego, que deixei há seis anos. Edna e Valdir são o tipo de casal que faz a gente acreditar no casamento – tá, como um bilhete premiado, como dizia Bentinho, antes de se tornar D. Casmurro, ao comentar as fotos de seus pais na parede da antiga casa: “O que se lê na cara de ambos é que, se a felicidade conjugal pode ser comparada à sorte grande, eles a tiraram no bilhete comprado de sociedade”. Para umas poucas pessoas é isso; para a maioria, o amor arrefece e o casamento vai se tornando morno, ou chato, ou cheio de imposições, e em algum momento passa a ser melhor saltar – do bonde, da ponte, ou de qualquer outra metáfora que signifique a impossibilidade de permanecer.
Mas volto a Itatiba: não consigo compreender todo o meu gosto pela vida no campo: adoro paisagem, animais domésticos e até aquelas revoadas de pássaros que eu nunca sei quais são, adoro em especial o silêncio e a tranquilidade. Adoro ver uma horta, sentir o cheirinho da alface ou da rúcula recém-colhidas. Comer frutas ainda meio verdes – porém, ao contrário do que fazia quando era criança, só depois de lavar bem e cortar melhor ainda, para ter certeza de que a fruta não tem nenhum “habitante”. O que não consigo mesmo compreender é que, gostando assim do campo, não tenho a mais remota vontade nem intenção de ir morar fora da loucura que é São Paulo.

Ilhabela

Perdi a senha, preciso aprender novamente a postar, isto é, se estiver postado, é porque deu certo...

Fim de semana prolongado na casa da Glória, em Ilhabela: tempo agradável, muita conversa, boa comida (que nós mesmas preparamos) e a confirmação de que algumas das amizades antigas permanecem para sempre. A conversa que não termina nunca, pois uns assuntos “puxam” outros, há tanto em comum nas peripécias de vida de pessoas próximas: amizades legais e esquisitas, situações corriqueiras e situações esdrúxulas...

Resumo: como cada uma de nós saiu dos relacionamentos afetivos, por exemplo.

A paisagem do litoral norte não poderia deixar de me lembrar das breves temporadas desde 1970, na casa da Sonia na Maranduba. Eram minhas primeiras oportunidades de ir mais longe, pois nessa época viajei pela primeira vez ao Rio, nos anos seguintes fui a Salvador, depois, em janeiro de 1973, já estava eu em meu fuscão vermelho, percorrendo toda a costa sul e aportando em... Buenos Aires. Não sei se os tempos eram menos perigosos então, talvez fossem. O fato é que minha irmã, eu e mais uma ou duas amigas levávamos a barraca e a carteirinha do camping clube e eu já imaginava que o mundo estava a meu alcance. Infelizmente, não estava, o que foi acontecer duas décadas depois, mas isto é assunto para mais adiante.

Em 1970 íamos à Maranduba, que era uma praia quase deserta. Na casa da Sonia havia luz elétrica até 17h, depois precisávamos acender velas ou usar lanterna. E começava a hora do ataque dos insetos & similares: as lagartixas andavam pelas ripas do forro da varanda e de repente uma ou outra caía. Eu me habituei a deitar na rede enrolada em um lençol da cabeça aos pés – literalmente – depois que uma delas caiu em cima de mim. A geladeira precisava ficar aberta porque não havia energia e as surpresas variavam: uma vez encontramos uma perereca na água da forma de gelo.

Nosso meio de transporte até lá era variado: quando fomos em turma grande, fui no carro da minha irmã ou no dos pais da Sonia, mas outra vez fomos no Ford 1929 do Renato, irmão da Sonia. Tenho uma foto pequena dessa viagem, preciso resgatá-la. Outra vez, em 1971, quando eu já era dona do meu primeiro carro (o famoso “Fritz”, um fusca 1955, portanto bem antigo já na época) a Sonia e eu fomos passar um mero fim de semana que se revelaria dos mais importantes de minha vida. Ao contrário do que recomendaria a prudência, demos carona no início da serra, para dois rapazes, que não conhecíamos, porém dar ou pegar carona era usual na época. Deixamos os dois na Lagoinha, praia muito próxima à Maranduba, não sem mostrar onde ficaríamos. Qual não foi a surpresa quando, no dia seguinte, lá apareceram os dois de bicicleta, e ... bem, essa história fica para outra vez. Éramos ousadas, imprudentes? E qual é a medida, quando se tem 20 anos?

Mas hoje me lembrei de uma viagem anterior a essa: o dia em que viemos de Santos até São Sebastião, eu dirigindo o fusca da minha irmã e o tio Chico dirigindo um Corcel reluzente, carro que era a verdadeira coqueluche da temporada. Não havia ainda a Rio-Santos, construída poucos anos depois. Estávamos no Boqueirão, no apartamento da D. Jeane, que havíamos alugado para a semana, quando meu tio falou: vamos tomar sorvete em São Sebastião? E fomos. Realmente, minha vida de motorista aventureira começava bem. Havia trechos de estrada de terra, com e sem pinguelas. Onde não havia pinguelas, a gente ia com o carro para a areia firme, bem pertinho do mar, engatava a segunda e passava rapidamente. E eu não sabia ainda o que é medo em estrada. A paisagem permanecia em boa parte ainda intocada, cortada pela estradinha de terra e pedregulho, com longuíssimas subidas, sem sinalização nem acostamento, sempre um carro longe do outro para evitar que os pedregulhos quebrassem o parabrisa. Adrenalina pura, com o acréscimo de detalhes sobre um ou outro ponto de atracação de barcos. Como meu tio conhecia essa rota? Pelo contato com contrabandistas que ali descarregavam suas mercadorias. Aí começaria uma história muito estranha: eu ter tido um parente que ficou dois anos preso no Carandiru, saiu de lá e em menos de 10 anos tornou-se fazendeiro e pecuarista muito, muuuuito rico... Pena que houve tantos fatos desagradáveis nesse intervalo familiar. O passeio pela trilha anterior à Rio-Santos foi em 1970; os tempos de prisão foram em 1972-73; o enriquecimento começou por volta de 1980. E desde 1985 houve um grande desentendimento e nunca mais falei com essa ala da família, que, aliás, não nos fez falta nem nós fizemos a eles.

Cada vez mais me convenço de que família se compõe parte pela herança genética e parte por... afinidade. Par alliance, como faziam os nobres antigos. Na vida adulta a gente continua visitando uns e deixa outros esquecidos para sempre, sendo a recíproca verdadeira. Humano, demasiado humano.

sábado, 31 de janeiro de 2009

crimes na mídia - e os dois meninos?

Nem preciso escrever sobre o quanto me incomoda viver em um país em que a vida humana vale tão pouco... Mas a interferência da mídia, principalmente da tevê, in loco, cada vez que ocorre uma barbaridade (e ocorrem muuuitas) me deixa realmente injuriada.
No ano passado, a mídia fez um sensacionalismo indescritível, indecoroso, anti-ético e irritante no mais alto grau com as reportagens sobre a "menina Isabela", assassinada aos seis anos possivelmente pelo próprio pai, e sobre a "jovem Eloá", assassinada pelo namorado que não conseguia viver sem ela (!!!). Capas de revistas, reportagens especiais nos jornais, enfim, um consumo patológico da miséria humana.
O que me irrita mais ainda - por incrível que pareça - é a discriminação social feita até mesmo na tragédia. Alguém ainda se lembra dos nomes dos dois meninos maltratados, espancados durante anos e, finalmente, assassinados, esquartejados e - não, não há limite para a estupidez humana - jogados em sacos de lixo, pelo próprio pai, em Ribeirão Pires?
Os dois meninos tinham passagens pela Febem & similares (você não teria? você não fugiria de uma casa ao ser espancado e receber constantes ameaças de morte? pois eles ficaram durante anos, sem que Conselheiros Tutelares, psicólogos, policiais e assistentes sociais acreditassem no que diziam...
Eu faria um monumento em memória a esses dois meninos: sofreram suas curtas vidas nas mãos de um psicopata e sofrem, postumamente, a discriminação da mídia de classe média. Sim, claro. Potencialmente, ninguém de nós vai se identificar com mulatinhos da periferia do ABC, portanto a morte deles não precisa permanecer na mídia dias, semanas e meses. Os repórteres não foram assediar os advogados, os vizinhos, a equipe que deveria ter zelado por eles, os helicópteros não foram sobrevoar o quarto-e-cozinha em que moravam. Eram tão pobres, indesejados e - por isso mesmo - tão rebeldes que não mereceram sequer o lamentável espetáculo da mídia. Revolta-me o estardalhaço, mas essa revolta vai ao paroxismo quando constato que até no mais fundo da miséria humana uns são mais humanos que outros, aos olhos do nosso jornalismo e da nossa classe média. A classe média tem dó dos seres que considera seus semelhantes, porém dedica a mais solene indiferença àqueles que considera seus inferiores... Se alguém tiver outra explicação, mande-me, por piedade!!!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Compensando o tempo perdido...

Perdi a senha, preciso aprender novamente a postar, isto é, se estiver postado, é porque deu certo...

Fim de semana prolongado na casa da Glória, em Ilhabela: tempo agradável, muita conversa, boa comida (que nós mesmas preparamos) e a confirmação de que algumas das amizades antigas permanecem para sempre. A conversa que não termina nunca, pois uns assuntos “puxam” outros, há tanto em comum nas peripécias de vida de pessoas próximas: amizades legais e esquisitas, situações corriqueiras e situações esdrúxulas...

Resumo: como cada uma de nós saiu dos relacionamentos afetivos, por exemplo.

A paisagem do litoral norte não poderia deixar de me lembrar das breves temporadas desde 1970, na casa da Sonia na Maranduba. Eram minhas primeiras oportunidades de ir mais longe, pois nessa época viajei pela primeira vez ao Rio, nos anos seguintes fui a Salvador, depois, em janeiro de 1973, já estava eu em meu fuscão vermelho, percorrendo toda a costa sul e aportando em... Buenos Aires. Não sei se os tempos eram menos perigosos então, talvez fossem. O fato é que minha irmã, eu e mais uma ou duas amigas levávamos a barraca e a carteirinha do camping clube e eu já imaginava que o mundo estava a meu alcance. Infelizmente, não estava, o que foi acontecer duas décadas depois, mas isto é assunto para mais adiante.

Em 1970 íamos à Maranduba, que era uma praia quase deserta. Na casa da Sonia havia luz elétrica até 17h, depois precisávamos acender velas ou usar lanterna. E começava a hora do ataque dos insetos & similares: as lagartixas andavam pelas ripas do forro da varanda e de repente uma ou outra caía. Eu me habituei a deitar na rede enrolada em um lençol da cabeça aos pés – literalmente – depois que uma delas caiu em cima de mim. A geladeira precisava ficar aberta porque não havia energia e as surpresas variavam: uma vez encontramos uma perereca na água da forma de gelo.

Nosso meio de transporte até lá era variado: quando fomos em turma grande, fui no carro da minha irmã ou no dos pais da Sonia, mas outra vez fomos no Ford 1929 do Renato, irmão da Sonia. Tenho uma foto pequena dessa viagem, preciso resgatá-la. Outra vez, em 1971, quando eu já era dona do meu primeiro carro (o famoso “Fritz”, um fusca 1955, portanto bem antigo já na época) a Sonia e eu fomos passar um mero fim de semana que se revelaria dos mais importantes de minha vida. Ao contrário do que recomendaria a prudência, demos carona no início da serra, para dois rapazes, que não conhecíamos, porém dar ou pegar carona era usual na época. Deixamos os dois na Lagoinha, praia muito próxima à Maranduba, não sem mostrar onde ficaríamos. Qual não foi a surpresa quando, no dia seguinte, lá apareceram os dois de bicicleta, e ... bem, essa história fica para outra vez. Éramos ousadas, imprudentes? E qual é a medida, quando se tem 20 anos?

Mas hoje me lembrei de uma viagem anterior a essa: o dia em que viemos de Santos até São Sebastião, eu dirigindo o fusca da minha irmã e o tio Chico dirigindo um Corcel reluzente, carro que era a verdadeira coqueluche da temporada. Não havia ainda a Rio-Santos, construída poucos anos depois. Estávamos no Boqueirão, no apartamento da D. Jeane, que havíamos alugado para a semana, quando meu tio falou: vamos tomar sorvete em São Sebastião? E fomos. Realmente, minha vida de motorista aventureira começava bem. Havia trechos de estrada de terra, com e sem pinguelas. Onde não havia pinguelas, a gente ia com o carro para a areia firme, bem pertinho do mar, engatava a segunda e passava rapidamente. E eu não sabia ainda o que é medo em estrada. A paisagem permanecia em boa parte ainda intocada, cortada pela estradinha de terra e pedregulho, com longuíssimas subidas, sem sinalização nem acostamento, sempre um carro longe do outro para evitar que os pedregulhos quebrassem o parabrisa. Adrenalina pura, com o acréscimo de detalhes sobre um ou outro ponto de atracação de barcos. Como meu tio conhecia essa rota? Pelo contato com contrabandistas que ali descarregavam suas mercadorias...

Como é difícil organizar o tempo...

Não pensei que um blog exigisse tanto tempo. É difícil escrever sobre o presente, dado que fatos interessantes se sucedem com rapidez: ontem (sexta-feira) o fim da minissérie sobre Maysa, anteontem (quinta-feira) um exame médico que me exigiu dois dias sem consumir café, chá escuro, leite & derivados, etc., e a “excursão” a São Bernardo na quarta. Talvez o mais rebelde às tentativas de reorganizar seja o tempo das recordações: a memória é caprichosa e seletiva, fico sempre desconfiada das peças que pode me pregar. Fico sem saber o que é realmente importante para ser registrado, mesmo em um registro parcial, subjetivo, aleatório... Ora, será importante o que eu decretar que é importante, pois não presto contas a ninguém e posso ficcionalizar. Posso, mas não quero. Concluo que o compromisso com a verdade é uma utopia bastante cansativa.

O fato é que algumas horas passadas no centro de São Bernardo me levaram aos anos 60. Ao andar pelo comércio na Marechal Deodoro e arredores, tive contínuas surpresas com as atuais funções ou a aparência de diversos imóveis. Tornaram-se meros estabelecimentos de comércio popular, sem nenhum encanto, algumas das casas em que residiam minhas amigas. Havia na época um ar, se não de opulência, pelo menos do conforto típico da classe média estabelecida, e eu me pergunto se era impressão minha, por ser então moradora de um conjunto habitacional padronizado (central, adequado para nós, porém sem nenhum status social).

Do ponto de vista da minha infância e adolescência, aquela configuração urbana e social parecia imutável. O mundo parecia estratificado, dividido entre pessoas ricas e pobres, porém a linha de separação que parecia uma muralha era um tênue que desapareceu totalmente...

Rua Jurubatuba, 1274

Ontem vi de longe, do alto, do outro lado da cidade: não sobrou nada. Isto é, faz tempo que não sobrou nada das três fileiras de sobrados, com terraços, escadas, um enorme eucaliptal como moldura, tudo desapareceu. Os tipos comuns que foram nossos vizinhos, parecidos com meus pais, ou os tipos exóticos recém-chegados da Itália do pós-guerra nos anos 50, ou os nordestinos com seus nomes estranhos, que chegaram na década seguinte, quantos deles ainda vivem? Aquelas dezenas de crianças que fomos, onde andarão? Já é tema para outro dia, a reflexão sobre a diversidade dos destinos humanos.

Rua Municipal

Poucas vezes entrei na casa da Maria Aparecida. Embora tivéssemos estudado juntas seis ou sete anos, ela era bastante reservada, não gostava de enturmar-se, e não via o menor problema em ser apontada como queridinha (ou puxa-saco, os termos variavam) das freiras. Conhecíamos seus pais, assíduos nas decisões quanto à formatura, por exemplo, sempre votando contra os “bailinhos” ou outras atividades que poderiam nos proporcionar diversão. O pai era industrial, mas os industriais de São Bernardo da época, quando muito, eram donos de fabriquinhas de móveis com menos de uma dezena de empregados, o que lhes permitia fazerem pose de grandes capitalistas na acanhada sociedade local. A casa tão bem estabelecida logo se converteu em lavanderia, o que descobri nos classificados do jornal, quando não conseguia tirar uma mancha enorme do tapete da sala.

Rua Américo Brasiliense

A casa da Silvinha era um sonho! Quando estávamos na 4ª série do ginásio, acompanhamos a construção e a mudança, pois a mãe dela era um verdadeiro mestre de obras, escolhendo pisos, azulejos e mobília, sem deixar nos levar, em sua Rural Willys, para trabalhos em grupo ou preparativos para a formatura. Dentre outros requintes que eu não conhecia até então, construiu-se nessa casa não um “puxadinho”, mas um salão, devidamente mobiliado, para os jovens ouvirem música ou estudarem. Era a casa em que eu (e quase todo mundo) gostaria de ter morado. Poucos anos depois, virou agência de seguros, escritório ou algo assim, e está praticamente em ruínas, pelo jeito, em vias de ser demolida.

Rua Rio Branco

Ah, as casas ao lado da igreja matriz: não havia nada mais chique e poderoso do que morar lá. Eram térreas, como a dos Pelosini, na esquina da rua Santa Filomena, ou sobrados que me pareciam enormes, como a da Ana Ronchetti. Também são estabelecimentos comerciais – a dos Pelosini simplesmente foi demolida e deu lugar a um pequeno shopping, a da Ana continua lá, totalmente descaracterizada. É quase impossível imaginar o ambiente aconchegante que lá existia, em uma família no melhor estilo ítalo-patriarcal, tão típico da cidade.


Acertou o velho Marx ao afirmar que tudo o que é sólido desmancha no ar. Infelizmente, nós todos, também – é apenas questão de tempo...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Engordamentos...

Já na segunda semana com blog praticamente não consegui postar nada, o que põe em sério risco minha proposta de escrever muito, contar estórias familiares, registrar minhas impressões sobre o cotidiano...

Não sei como ainda não escrevi nada sobre emagrecimento. Acho que os problemas com aumento de peso torturam 99% da população. Quase todo mundo que eu conheço luta contra a tendência para engordar e tem sonhos simples, porém inalcançáveis, como emagrecer ou simplesmente manter o peso.

Sou uma pessoa a mais nessa estatística. Assim que o primeiro adoçante em gotas chegou ao Brasil – era o Suita, na embalagem de plástico azul, com cerca de 30 ml – eu já estava na porta da Drogasil, na av. Marechal Deodoro para comprá-lo. Muito depois, chegou a Coca Diet, seguida do Diet Dolly. Eu mal tinha completado 18 anos e a sina de ser gordinha nunca me deixou em paz. Certamente tive algum distúrbio de crescimento: parece incrível que uma pessoa bem alimentada como eu fui não tenha ultrapassado 1,55m de altura. Tá, pode ser herança genética. Mas aposto que tenho algum distúrbio metabólico, ou um daqueles problemas de assimilação em excesso de determinados nutrientes, cuja solução a ciência só vai encontrar daqui a séculos...

O pior é pesquisar tudo sobre dietas, tomar moderadores de apetite, mudar o consumo de alimentos (sem carboidrato parte do dia e sem proteína na outra parte), fazer Vigilantes etc. etc., e não conseguir baixar o peso, mantendo ainda algumas dúvidas perenes:

- pode ser que comer à noite seja mais engordante do que comer a mesma quantia antes das 14h. Tem lógica: a gente vai dormir em seguida, não se movimenta, portanto não queima as calorias.

- pode ser que comida light não dê a menor ajuda aos pobres gordos. Comecei a consumir margarina light desde que a inventaram, porém só se divulgou há pouco tempo que margarina tem gordura trans, que se acumula toda na barriga. Talvez eu deva agradecer aos senhores fabricantes e cientistas, pelo aviso tardio... Substitiuí a manteiga, nutritiva e saborosa, por umas pastas de gordura trans, sem gosto e, de repente, isso só serviu para ampliar a circunferência do meu abdômen...

- pode ser que as frutas e os legumes sejam muito saudáveis mas, pelo jeito, são altamente engordantes – a não ser que a gente reduza o consumo a quantidades ridículas, o que eu nunca consegui...

Acho que voltarei a este assunto outras vezes, mesmo que o considere, ante tantos problemas mundiais, pouco mais que uma conversa de dondoca que tem sempre o prato cheio.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Fotobiografia intelectual


Não é novidade para ninguém o quanto a atividade intelectual é gratificante, deliciosa e envolvente para mim. Se eu não precisasse fazer mais nada na vida, apenas ler, seria muito feliz – desde que pudesse manter o convívio com pessoas, as caminhadas e uma ou outra atividade complementar. Vejam só como podem ser modestas as necessidades e aspirações de uma pessoa! Um aspecto curioso sobre minha vida intelectual: desde quando pude incrementá-la com viagens a congressos, ficou muuuuito melhor.

Pois agora decidi: vou organizar fotos, ano a ano, relacionadas a minhas participações em eventos, viagens e que-tais. Pretendo fazer uma retrospectiva, desde uma foto na Universidade Jakob, em Bremen, em agosto passado, até (se meus queridos filhos me ajudarem a escanear), até minha foto com carinha de idiota, de uniforme, com arquinho de florezinhas no cabelo, na segunda série primária, ao lado da bandeira nacional e da estátua de São José, que afinal era o patrono do colégio. Sim, esse ponto inicial - pelo menos o primeiro documentado como "atividade intelectual", deverá ser o ponto final, já que esta autobiografia se propõe ser à rebours...

Eis aí a primeira foto em Bremen: não é exatamente a da minha apresentação no colóquio, pois não sei onde salvei as fotos "oficiais", gentilmente enviadas pelo Hans Joachin. Mas gosto muito dessa foto, tirada em um restaurante na vila próxima à universidade. Não deixa de ser uma homenagem ao Guile, companhia frequente e apoio maravilhoso em boa parte desses eventos. Eu diria que, com o pessoal da ICLA (International Comparative Literature Association), ele até está mais enturmado do que eu - a esse propósito, veremos quando for postado o congresso de 2007 no Rio.

No próximo post, o contraponto: a única atividade mais relevante, o único interesse maior, a única categoria em que me insiro preferencialmente, e que se sobrepõe ante a atividade intelectual, é a vida de mãe e avó. Vou organizar em paralelo (menos, a proposta é não ser cartesiana...) a fotobiografia familiar.



domingo, 4 de janeiro de 2009

Obituários...

título talvez estranho, mas próprio de final e começo de ano. Faz parte de um balanço. Ocorreu-me hoje a vontade de escrever o obituário de 2008, um obituário bastante específico, referente a algumas pessoas próximas e queridas que morreram no ano passado.

Sobre obituários

Há três janeiros, eu estava praticando meus precários conhecimentos de língua inglesa na Califórnia e, ao ler jornais locais de Riverside (uma cidadezinha perdida no meio do nada, a 70 milhas de Los Angeles), chamaram-me a atenção obituários sobre as saudades que deixam, por exemplo, a Sra. Miller, excelente esposa, mãe, tia e sogra amorosa, participante das rodadas de bridge no clube; o Sr. Stanley, veterano de tantas campanhas, um dos pilares da sociedade civil; o Dr. Ebenezer Smith, a quem toda a cidade tanto deve, desde as primeiras cirurgias que fez nos anos 50, e assim por diante. Os textos podiam ocupar um parágrafo ou uma coluna inteira do jornal, imagino que a extensão só dependesse da disposição de familiares e amigos para escreverem sobre seus mortos (sei lá, talvez dependesse também do espaço pago, afinal, isso acontece no paraíso do capitalismo). O fato é que simpatizei com detalhes como, por exemplo, as tortas de damasco, com cobertura de suspiro e recheio de não-sei-o-quê, absolutamente inesquecíveis, da Sra. Miller, ou a rotineira caminhada matutina do Dr. Ebenezer, devidamente trajado com sua bermuda branca e meia soquete.

É assim, com a memória afetiva, que escrevo um pouco sobre os que aqui não estão para ler. Nesse mesmo espírito espero que escrevam sobre mim. Atenção: filhos, filha, netinhas, primeira cobrança explícita neste blog, em que certamente haverá outras. Esta, entretanto, se vocês não cumprirem eu nem saberei...


Jairo

Uma figura inesquecível. Lamento o pouco convívio que tivemos. Como bem lembrou o Guile, foi há 15 anos que nós cinco, que formávamos então minha família, visitamos au grand complet Jairo, Maria Luiza & filhos, sendo ele meu concunhado, e ela a cunhada mais meiga e querida que alguém possa ter. Não é dessa viagem, que tenho recordações mais fortes, mas de tempos antigos, quando as crianças eram muito pequenas e ele demonstrava um jeito especial para lidar com cada uma delas. Sua grande performance no Natal de 1986, quando se vestiu de Papai Noel, mudou a postura, disfarçou a voz e enganou até a própria filha, que exclamou: “Puxa, o Papai Noel usa sapato igualzinho ao do meu pai!” Outra ação típica: o passeio de carro de Bertioga a São Sebastião, Jairo dirigindo seu enorme Galaxie Landau, que ocupava a pista inteira, a 30 km por hora nas curvas da Rio-Santos, todo mundo buzinando impaciente e ele “nem aí”, curtindo a viagem e apreciando a paisagem... Parece que as pessoas sempre estarão por perto, ou que sempre poderemos nos ver em férias, festas ou feriados prolongados. Não era tão perto, Cascavel fica a 960 km de casa. Mas pegou-nos desprevenidos essa perda, embora de certo modo anunciada por idas ao hospital, breves internações, dificuldades crescentes com respiração, movimentação, etc.


Pedrão

A ausência do Pedrão ainda está difícil de assimilar. Nada como um bom advogado para a gente se sentir segura na vida, firme nas decisões, defendida ante imprevistos e contratempos. Além disso, como comentou uma amiga minha, ele parecia “imorrível”... Ocultas sob sua figura imponente, seu vozeirão e suas frases provocadoras e polêmicas, ele escondia grandes qualidades, uma vivência extraordinária, um jeito bom de atender a quem precisasse dele. Advogado de mão cheia, tinha respostas para tudo e não hesitava em exercer o papel de modo bem teatral, até mesmo com oportunos murros na mesa se necessário. Lamentarei para sempre que ele não tenha tido tempo de resolver questões jurídicas, grandes e pequenas, minhas e de tantas pessoas, que ele faria a seu modo e com sua competência peculiares. A doença instalou-se nos pulmões de modo fulminante, ou já estava por lá e só se manifestou em estado avançado, como saber? O maior problema não serão as pendências jurídicas, algumas que pretendo resolver e outras que dou por encerradas; o que pesará mais, sem dúvida, serão as saudades.

Didi

Ou Dirce, a componente da famille que ganhei em Orléans. Viajávamos pelo interior da França, de Poitiers a Paris, Didi, Adélia e eu, com cinco ou seis dias para passear, em programação bastante flexível. Mapa rodoviário na mão (e ainda sem GPS, o que torna mais fascinante essa aventura, pois nenhuma de nós tinha o menor senso de direção), percorríamos 80 a 100 quilômetros, entrávamos em alguma cidadezinha, procurávamos um hotel para pernoitar e visitávamos os pontos interessantes nos arredores. Em Orléans saímos a passeio em horários diferentes e, quando Didi e Adélia retornaram ao hotel, a concierge decretou: “Votre famille n’est pas là!”. Sem saber, aquela senhora com ar de camponesa meio mal-humorada identificou-nos como nos sentíamos: uma verdadeira família. Cada vez mais me convenço, aliás, de que elegemos alguns parentes da família original, esquecemos outros tantos e acrescentamos famílias não-consanguíneas ao longo da vida. Os laços que permanecem atam-se mais por afinidades afetivas do que por herança genética...


Glória

Que dizer de uma pessoa boa, tranquila, sossegada, a quem, todavia, tão poucas chances foram proporcionadas? Tínhamos exatamente a mesma idade, “meninas” da safra de 1950, e nos tornamos amigas na adolescência, quando meu tio Dico começou o namoro com Anália, a irmã dela, que resultou, aliás, em um dos casamentos mais felizes que já vi. Ao entrar na vida adulta, Glória começou a apresentar pequenos distúrbios psiquiátricos, contornados com medicamentos e tratamentos. Ficou à sombra da família, uma tia querida para dezenas de sobrinhos. Não aconteceu a profissionalização, nem o casamento, nem, evidentemente, a independência financeira. O primeiro câncer foi derrotado, anos atrás, porém chegou outro, agressivo, que provocava dores insuportáveis. O ano inteiro de internações, tratamentos, até a sedação e a morte. Triste. Só não é mais triste porque contou com carinho, apoio e presença firme dos irmãos, tia Anália e Jair em especial. Uma família autenticamente solidária.


Soninha

Eu não a via desde o último encontro das “meninas do colégio”, que havia sido em um restaurante nas colônias, em São Bernardo, há cerca de sete anos. Assim, fiquei muito feliz quando fui convidada para a reunião que Adriana Todesco estava organizando no sítio em Riacho Grande, e lá nos encontramos: Ana, Angelina, Cecília, Dora, Eliana, Elisabeth, Eunice, eu, Márcia, Marlene, Marli, Neusa, Nidya, Regina, Tânia, além das hostess Adriana e Daniela. Apesar do mau tempo, foi uma tarde alegre, divertida, acompanhada de sessões de fotos e piadas, claro... Também fazia tempo que eu não conversava com a Soninha, e só então soube que ela havia ficado viúva anos antes, porém os filhos já estavam independentes, a vida estabilizada – até havia aparecido um namorado. Ela estava tão bonita e feliz que, quando a Ana me telefonou, menos de um mês depois, para dar uma notícia triste, ela seria a última pessoa em quem eu iria pensar. Um acidente de carro. Tão inexplicável... Ela está no centro da foto, de jaqueta branca, e esta é a imagem que fica, acho que para todas nós.





sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

7.000 vereadores e 7 km de esgoto

Mais de 7.000 novos cargos para vereadores: esse foi o segundo fator a desencadear a abertura deste blog. Ontem, no telejornal, um representante da Transparência (não me lembro do nome dele nem do nome completo da Ong) fez uma declaração com a qual concordo em gênero, número e grau: o Brasil certamente precisa de mais de 7.000 médicos, 7.000 dentistas, etc., mas não precisa de 7.000 vereadores!
Refletindo sobre a frase acima, e depois de saber que em Mafra-Rio Negro, onde estive até hoje cedo, a rede de esgoto não cobre sequer 40% de um dos municípios e, segundo me disse Adriana, simplesmente não existe no outro, pensei em escrever ao José Simão, na Folha, para proclamar o seguinte slogan: b* por b* ou m* por m* (este é um blog pudico!!!), proponho que se gaste mensalmente a grana não com 7.000 vereadores, mas instalando 7 quilômetros de rede de esgoto por município por mês. Seria fácil, se os poderosos neste país fossem obrigados a construir uma fossa para dejetos nos quintais de suas mansões, e ainda gastassem boa parte da renda no pagamento periódico do caminhão limpa-fossas... O poder público neste país é trash mesmo!!! Tá, comecei a panfletagem já no segundo post. Sorte minha que pouca gente vai ler isto.

De onde vem o blog

O início talvez pareça meio simples demais - é o problema de qualquer tarefa que se inicia sem prática anterior. Mas a idéia é antiga, estava adormecida e veio à tona há dez dias, em plena BR-116, quando comecei a contar ao Guile pequenos episódios sobre a família, em especial os que ocorreram na década de 50. Sim, memória é sempre seletiva, embora seja impossível saber porque determinados fatos ficam tão presentes e outros se apagaram definitivamente, ou porque determinadas pessoas estão absolutamente presentes em nossa memória (mesmo que tenham morrido há muito tempo) e outras não passaram de meros figurantes que praticamente sumiram, deixando vestígios esparsos: uma frase, um detalhe no traje, a posição ocupada em uma determinada cena.
Vou recuperar, aos poucos, tudo o que for recuperável, ou seja, pretendo registrar o que a memória guardou até aqui. Pessoas, momentos, diálogos, trajes, reações, enfim, fragmentos das rotinas do cotidiano. Além disso: viagens, festas, cerimônias, momentos únicos, ápices ansiosamente esperados ou imprevistos que cintilaram de repente. Tudo isso, do ponto de vista externo, tem correspondências internas, afetivas, emocionais, que são um caso à parte, a ser - também - devidamente registradas.

Tentativa e erro

Porém nem toda tentativa é um erro....