terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Ilhabela

Perdi a senha, preciso aprender novamente a postar, isto é, se estiver postado, é porque deu certo...

Fim de semana prolongado na casa da Glória, em Ilhabela: tempo agradável, muita conversa, boa comida (que nós mesmas preparamos) e a confirmação de que algumas das amizades antigas permanecem para sempre. A conversa que não termina nunca, pois uns assuntos “puxam” outros, há tanto em comum nas peripécias de vida de pessoas próximas: amizades legais e esquisitas, situações corriqueiras e situações esdrúxulas...

Resumo: como cada uma de nós saiu dos relacionamentos afetivos, por exemplo.

A paisagem do litoral norte não poderia deixar de me lembrar das breves temporadas desde 1970, na casa da Sonia na Maranduba. Eram minhas primeiras oportunidades de ir mais longe, pois nessa época viajei pela primeira vez ao Rio, nos anos seguintes fui a Salvador, depois, em janeiro de 1973, já estava eu em meu fuscão vermelho, percorrendo toda a costa sul e aportando em... Buenos Aires. Não sei se os tempos eram menos perigosos então, talvez fossem. O fato é que minha irmã, eu e mais uma ou duas amigas levávamos a barraca e a carteirinha do camping clube e eu já imaginava que o mundo estava a meu alcance. Infelizmente, não estava, o que foi acontecer duas décadas depois, mas isto é assunto para mais adiante.

Em 1970 íamos à Maranduba, que era uma praia quase deserta. Na casa da Sonia havia luz elétrica até 17h, depois precisávamos acender velas ou usar lanterna. E começava a hora do ataque dos insetos & similares: as lagartixas andavam pelas ripas do forro da varanda e de repente uma ou outra caía. Eu me habituei a deitar na rede enrolada em um lençol da cabeça aos pés – literalmente – depois que uma delas caiu em cima de mim. A geladeira precisava ficar aberta porque não havia energia e as surpresas variavam: uma vez encontramos uma perereca na água da forma de gelo.

Nosso meio de transporte até lá era variado: quando fomos em turma grande, fui no carro da minha irmã ou no dos pais da Sonia, mas outra vez fomos no Ford 1929 do Renato, irmão da Sonia. Tenho uma foto pequena dessa viagem, preciso resgatá-la. Outra vez, em 1971, quando eu já era dona do meu primeiro carro (o famoso “Fritz”, um fusca 1955, portanto bem antigo já na época) a Sonia e eu fomos passar um mero fim de semana que se revelaria dos mais importantes de minha vida. Ao contrário do que recomendaria a prudência, demos carona no início da serra, para dois rapazes, que não conhecíamos, porém dar ou pegar carona era usual na época. Deixamos os dois na Lagoinha, praia muito próxima à Maranduba, não sem mostrar onde ficaríamos. Qual não foi a surpresa quando, no dia seguinte, lá apareceram os dois de bicicleta, e ... bem, essa história fica para outra vez. Éramos ousadas, imprudentes? E qual é a medida, quando se tem 20 anos?

Mas hoje me lembrei de uma viagem anterior a essa: o dia em que viemos de Santos até São Sebastião, eu dirigindo o fusca da minha irmã e o tio Chico dirigindo um Corcel reluzente, carro que era a verdadeira coqueluche da temporada. Não havia ainda a Rio-Santos, construída poucos anos depois. Estávamos no Boqueirão, no apartamento da D. Jeane, que havíamos alugado para a semana, quando meu tio falou: vamos tomar sorvete em São Sebastião? E fomos. Realmente, minha vida de motorista aventureira começava bem. Havia trechos de estrada de terra, com e sem pinguelas. Onde não havia pinguelas, a gente ia com o carro para a areia firme, bem pertinho do mar, engatava a segunda e passava rapidamente. E eu não sabia ainda o que é medo em estrada. A paisagem permanecia em boa parte ainda intocada, cortada pela estradinha de terra e pedregulho, com longuíssimas subidas, sem sinalização nem acostamento, sempre um carro longe do outro para evitar que os pedregulhos quebrassem o parabrisa. Adrenalina pura, com o acréscimo de detalhes sobre um ou outro ponto de atracação de barcos. Como meu tio conhecia essa rota? Pelo contato com contrabandistas que ali descarregavam suas mercadorias. Aí começaria uma história muito estranha: eu ter tido um parente que ficou dois anos preso no Carandiru, saiu de lá e em menos de 10 anos tornou-se fazendeiro e pecuarista muito, muuuuito rico... Pena que houve tantos fatos desagradáveis nesse intervalo familiar. O passeio pela trilha anterior à Rio-Santos foi em 1970; os tempos de prisão foram em 1972-73; o enriquecimento começou por volta de 1980. E desde 1985 houve um grande desentendimento e nunca mais falei com essa ala da família, que, aliás, não nos fez falta nem nós fizemos a eles.

Cada vez mais me convenço de que família se compõe parte pela herança genética e parte por... afinidade. Par alliance, como faziam os nobres antigos. Na vida adulta a gente continua visitando uns e deixa outros esquecidos para sempre, sendo a recíproca verdadeira. Humano, demasiado humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário