título talvez estranho, mas próprio de final e começo de ano. Faz parte de um balanço. Ocorreu-me hoje a vontade de escrever o obituário de 2008, um obituário bastante específico, referente a algumas pessoas próximas e queridas que morreram no ano passado.
Sobre obituários
Há três janeiros, eu estava praticando meus precários conhecimentos de língua inglesa na Califórnia e, ao ler jornais locais de Riverside (uma cidadezinha perdida no meio do nada, a
É assim, com a memória afetiva, que escrevo um pouco sobre os que aqui não estão para ler. Nesse mesmo espírito espero que escrevam sobre mim. Atenção: filhos, filha, netinhas, primeira cobrança explícita neste blog, em que certamente haverá outras. Esta, entretanto, se vocês não cumprirem eu nem saberei...
Jairo
Uma figura inesquecível. Lamento o pouco convívio que tivemos. Como bem lembrou o Guile, foi há 15 anos que nós cinco, que formávamos então minha família, visitamos au grand complet Jairo, Maria Luiza & filhos, sendo ele meu concunhado, e ela a cunhada mais meiga e querida que alguém possa ter. Não é dessa viagem, que tenho recordações mais fortes, mas de tempos antigos, quando as crianças eram muito pequenas e ele demonstrava um jeito especial para lidar com cada uma delas. Sua grande performance no Natal de 1986, quando se vestiu de Papai Noel, mudou a postura, disfarçou a voz e enganou até a própria filha, que exclamou: “Puxa, o Papai Noel usa sapato igualzinho ao do meu pai!” Outra ação típica: o passeio de carro de Bertioga a São Sebastião, Jairo dirigindo seu enorme Galaxie Landau, que ocupava a pista inteira, a
Pedrão
A ausência do Pedrão ainda está difícil de assimilar. Nada como um bom advogado para a gente se sentir segura na vida, firme nas decisões, defendida ante imprevistos e contratempos. Além disso, como comentou uma amiga minha, ele parecia “imorrível”... Ocultas sob sua figura imponente, seu vozeirão e suas frases provocadoras e polêmicas, ele escondia grandes qualidades, uma vivência extraordinária, um jeito bom de atender a quem precisasse dele. Advogado de mão cheia, tinha respostas para tudo e não hesitava em exercer o papel de modo bem teatral, até mesmo com oportunos murros na mesa se necessário. Lamentarei para sempre que ele não tenha tido tempo de resolver questões jurídicas, grandes e pequenas, minhas e de tantas pessoas, que ele faria a seu modo e com sua competência peculiares. A doença instalou-se nos pulmões de modo fulminante, ou já estava por lá e só se manifestou em estado avançado, como saber? O maior problema não serão as pendências jurídicas, algumas que pretendo resolver e outras que dou por encerradas; o que pesará mais, sem dúvida, serão as saudades.
Didi
Ou Dirce, a componente da famille que ganhei
Glória
Que dizer de uma pessoa boa, tranquila, sossegada, a quem, todavia, tão poucas chances foram proporcionadas? Tínhamos exatamente a mesma idade, “meninas” da safra de 1950, e nos tornamos amigas na adolescência, quando meu tio Dico começou o namoro com Anália, a irmã dela, que resultou, aliás, em um dos casamentos mais felizes que já vi. Ao entrar na vida adulta, Glória começou a apresentar pequenos distúrbios psiquiátricos, contornados com medicamentos e tratamentos. Ficou à sombra da família, uma tia querida para dezenas de sobrinhos. Não aconteceu a profissionalização, nem o casamento, nem, evidentemente, a independência financeira. O primeiro câncer foi derrotado, anos atrás, porém chegou outro, agressivo, que provocava dores insuportáveis. O ano inteiro de internações, tratamentos, até a sedação e a morte. Triste. Só não é mais triste porque contou com carinho, apoio e presença firme dos irmãos, tia Anália e Jair em especial. Uma família autenticamente solidária.
Eu não a via desde o último encontro das “meninas do colégio”, que havia sido em um restaurante nas colônias,
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