sábado, 31 de janeiro de 2009

crimes na mídia - e os dois meninos?

Nem preciso escrever sobre o quanto me incomoda viver em um país em que a vida humana vale tão pouco... Mas a interferência da mídia, principalmente da tevê, in loco, cada vez que ocorre uma barbaridade (e ocorrem muuuitas) me deixa realmente injuriada.
No ano passado, a mídia fez um sensacionalismo indescritível, indecoroso, anti-ético e irritante no mais alto grau com as reportagens sobre a "menina Isabela", assassinada aos seis anos possivelmente pelo próprio pai, e sobre a "jovem Eloá", assassinada pelo namorado que não conseguia viver sem ela (!!!). Capas de revistas, reportagens especiais nos jornais, enfim, um consumo patológico da miséria humana.
O que me irrita mais ainda - por incrível que pareça - é a discriminação social feita até mesmo na tragédia. Alguém ainda se lembra dos nomes dos dois meninos maltratados, espancados durante anos e, finalmente, assassinados, esquartejados e - não, não há limite para a estupidez humana - jogados em sacos de lixo, pelo próprio pai, em Ribeirão Pires?
Os dois meninos tinham passagens pela Febem & similares (você não teria? você não fugiria de uma casa ao ser espancado e receber constantes ameaças de morte? pois eles ficaram durante anos, sem que Conselheiros Tutelares, psicólogos, policiais e assistentes sociais acreditassem no que diziam...
Eu faria um monumento em memória a esses dois meninos: sofreram suas curtas vidas nas mãos de um psicopata e sofrem, postumamente, a discriminação da mídia de classe média. Sim, claro. Potencialmente, ninguém de nós vai se identificar com mulatinhos da periferia do ABC, portanto a morte deles não precisa permanecer na mídia dias, semanas e meses. Os repórteres não foram assediar os advogados, os vizinhos, a equipe que deveria ter zelado por eles, os helicópteros não foram sobrevoar o quarto-e-cozinha em que moravam. Eram tão pobres, indesejados e - por isso mesmo - tão rebeldes que não mereceram sequer o lamentável espetáculo da mídia. Revolta-me o estardalhaço, mas essa revolta vai ao paroxismo quando constato que até no mais fundo da miséria humana uns são mais humanos que outros, aos olhos do nosso jornalismo e da nossa classe média. A classe média tem dó dos seres que considera seus semelhantes, porém dedica a mais solene indiferença àqueles que considera seus inferiores... Se alguém tiver outra explicação, mande-me, por piedade!!!

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